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Filosofia do Cotidiano - Luiz Felipe Pondé

Editora: Contexto
Páginas: 128
Classificação: 
Onde Comprar: https://amzn.to/2Wg3T9b
Sinopse: “Filosofar nunca foi sobre deixar você feliz. É que andam mentindo muito por aí. Filosofar está mais ligado ao despertar do sonambulismo. Essa é minha proposta nesta conversa com você.”
“Seguiremos em direção a um mar profundo, muito distante do que o senso comum assume que o mundo seja. O mundo não é um mar calmo de evidências. É um oceano cheio de pequenas tempestades a serem vencidas. O cotidiano nesse percurso não é a mera passagem das horas, é o cotidiano contemporâneo, permeado pelo caráter histórico desta época em que vivemos.”
“Somos seres muitos mais acanhados em nossa natureza do que a aberração feliz postada nas redes sociais (e na publicidade em geral). Suspeito mesmo que a própria ideia de felicidade se tornou uma variável patogênica em si.”
“Quem tem medo de sofrer é incapaz de desejar.”
“Leitura é um hábito anormal, se ‘normal’ for ser igual à maioria.”
“A obsessão pela felicidade faz de você um chato. Como escapar dessa armadilha? Escolher o fracasso? Não precisa, ele te achará. Viver sem fórmulas é o desafio


Precisamos falar sobre: MERLÍ

"Aristóteles achava que era um ser social e, por tanto, hoje em dia teria perfil no Facebook" - Merlí

Merlí chegou há pouco mais de um ano no catálogo da Netflix, mas já conheço a série há algum tempo (para quem não sabe, sou professor de Espanhol e sempre tento assistir séries e filmes com a língua, apesar dessa não ser). Ela é daquele tipo que está no catálogo, mas quase ninguém assiste ou comenta, entretanto, todos os seres humanos deveriam assistir.

A série catalã agradou muito ao público não só da Catalunha, como da Espanha toda (vale ressaltar que Merlí foi dublada para ser exibida em todo o território espanhol, tendo em vista que ela tem o áudio original em catalão) e por isso, a Netflix comprou os direitos da série, se tornando uma das produtoras e responsável ela distribuição pelo mundo.

Assim, em três temporadas, acompanhamos a história de Merlí, um professor substituto de Filosofia recém contratado, que passa a dar aulas na turma de seu filho, o jovem Bruno. O professor não tem métodos muito convencionais de dar aula e acaba influenciando, até demais, a vida de seus alunos (e de quem assiste também)

Por isso, fizemos uma lista com alguns motivos para você assistir a série, então vai.

1º. FILOSOFIA


Filosofia nunca foi minha área de humanas preferida, tive muitos problemas com meu professor na escola. Merlí me ensinou mais sobre filosofia, sociologia e humanidades que qualquer professor que já estudei.

Cada episódio leva o nome de um filósofo ou movimento filosófico, e você querendo ou não aprenderá sobre eles, já que as explicações não ficam somente no reino das ideias e nós vemos as aulas acontecendo em cena, com o professor explicando e os alunos tirando dúvidas. Além disso, a filosofia aprendida neste episódio servirá para algum/alguns aluno(s) aplicar(em) em suas vida e superar o momento que passa.

Por exemplo, logo nos primeiros episódios, Merlí usa a explicação sobre Mito da Caverna de Platão para ajudar um aluno que sofre de síndrome do pânico e início de depressão a voltar a sociedade, já que o mesmo está há meses sem sair de casa ou ter contato com outras pessoas que não seja sua mãe.


Além disso, as discursões filosóficas desenvolvidas na série são extremamente relevantes, tratando de assuntos como política, economia, sociedade e até sexualidade.

Então, se está com dificuldades em Filosofia, é uma boa oportunidade para estudar e assistir série ao mesmo tempo.


2º PROBLEMAS REAIS

Os brasileiros já estão acostumados a ver Malhação toda semana há mais de 20 anos, entretanto a série brasileira traz uma versão superficial da vida dos adolescentes que retrata. Merlí segue um padrão totalmente diferente disso.

Os jovens alunos do bachillerato (Ensino Médio da Espanha) trazidos são colocados em situações que se assemelham demais a vida real, deixando de lado os conflitos amorosos e brigas superficiais de adolescentes, como discursão por quem ama mais, colocando em evidencia assuntos como crises de pânico, controle excessivo da família, descoberta da sexualidade, uso e venda de drogas e dúvidas sobre a aproximação da vida adulta.

Sim, eles mostram alunos usando drogas e seus efeitos
Ver a evolução dos personagens desde o primeiro episódio até o último é gratificante, ver as perdas e conquistas de cada um nos coloca em uma posição muitas vezes desconfortável e que nos faz aprender muito com isso.


3ª DEFESA DA CAUSA LGBTQ+

Não é a primeira vez que uma série espanhola traz a questão como uma de suas bases, a final, Física o Química já trazia em 2008 um casal gay como um dos casais principais, mas Merlí foi além disso.

Na série, podemos ver como Bruno, filho de Merlí, tenta se aceitar como gay, enquanto o mesmo reproduz falas e atos homofóbicos, além de se contrapor a outro aluno, Oliver, um jovem gay, afeminado, convicto de sua sexualidade e disposto a tudo para quebrar o preconceito vivido tanto em casa como na escola. Pol também vai ter sua bissexualidade desenvolvida no decorrer das três temporadas.


Além dos alunos, uma professora substituta transexual aparece em alguns episódios, Quima, ajudando os estudantes a ter uma nova visão sobre identidade de gênero, chegando ao ponto dos alunos protestarem pela permanência da professora na escola.


 Merecendo uma salva de palmas por dedicar um episódio inteiro a Judith Butler (episódio 7 da 2ª temporada), uma das idealizadoras da Teoria Queer. Entretanto, a crítica fica pela falta de atores que realmente sejam gays, lésbicas e transexuais (pelo menos não assumidos, a maioria tem vidas reservadas e na Espanha, essa questão não é um tabu tão grande a ponto de ficarem perguntando em todas as entrevistas)


4ª EDUCAÇÃO

Merlí, o personagem, é tido por todos como o bom mau caráter, entretanto, é inegável que suas técnicas de aula são extremamente não-convencionais (e não vou mentir, sempre tento dar aula seguindo seu modelo) e consegue atrair a atenção dos alunos, os fazendo imergir no ambiente, como realmente deveria ser.

Se todos os professores fossem empáticos como Merlí e soubesse lidar com a diversidade e as necessidades de seus alunos, a educação seria bem diferente dos moldes atuais. Infelizmente, se um professor segue à risca o que ele faz, corre grandes risco de ser demitido de primeira.

Um grande exemplo desse “poder” que Merlí tem está na sua relação com Pol, um jovem que está repetindo pela 2ª vez o 1º ano do batillerato. Antes mesmo de entrar em sala e de conhecer o aluno, o estudante é apresentado como o pior da escola e uma pessoa sem futuro. O professor não liga para isso, e logo em seu primeiro contato com Pol aceita suas limitações, como o fato dele não conseguir copiar o conteúdo e prestar atenção na aula ao mesmo tempo (um problema que tive/tenho durante toda minha vida escolar), e o torna seu aluno favorito, desenvolvendo no adolescente um motivo extra para estudar, já que ninguém acreditava nele (#SPOILERALERT Pol acaba se tornando professor de Filosofia graças a isso)


 Em um diálogo muito interessante, um professor diz à Merlí que não vai ser amigo dos seus alunos e que é necessário manter a distancia entre professor e aluno, Merlí responde "Me interessa mais a distancia entre professor e professor"

Entretanto, Merlí nos mostra o outro lado da educação também. Muitas vezes acreditamos que os sistemas educacionais europeus são excelentes e acabamos entrando em uma falsa crença de que tudo é perfeito lá. Na série vemos que o sistema espanhol é cheio de problemas, como a falta de recursos, professores com péssimos salários e desmotivados e a falta de apoio do governo para várias ações na escola. Então, antes de criticar o sistema brasileiro citando estrangeiro, nem tudo é um mar de rosas como se pensa (Apesar disso, o governo espanhol é um dos que mais investe em educação tanto dos espanhóis como em outros países, o Brasil, por exemplo, é um dos que mais recebe bolsas de estudos de lá).


5º LÍNGUA CATALÃ


Para os que estão acostumados com as séries em inglês, Merlí pode ser uma boa válvula de escape para conhecer novas línguas. Depois do sucesso que foi La Casa de Papel, uma série espanhola, é bom descobrir que a Espanha não tem somente um idioma oficial.

Para quem não sabe, algumas comunidades autônomas (que seriam os nossos estados), como Catalunha, País Vasco e Galícia, tem línguas co-oficiais, e essas línguas são mais usadas do que o próprio castelhano em seus territórios.

Merlí mostra justamente isso, a série é totalmente em catalão, os únicos momentos em que ouvimos o castelhano são nas aulas de Língua Castelhana, que é dada como qualquer outra língua extra como inglês e latim, e em diálogos relacionados a família de Pol, que veio de Madrid.

A língua é apresentada em vários momentos como uma forma de protesto, tendo em vista que a situação atual na Espanha traz à tona movimentos separatistas, coisa que a série também mostra com alguns detalhes.

Além disso, é muito legal aprender expressões e gírias novas como sisplau, ningun, amiquis. Então, se puder, assista no áudio original, você não vai se arrepender.



Então, não deixe para amanhã o que você deferia estar fazendo desde 2015, comece Merlí hoje mesmo na Netflix, se apaixone, odeie e descubra como as pessoas podem ser hipócritas (tudo isso no mesmo personagem).



INDICAÇÃO DE FILME

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Priscila, linguista de formação, doutoranda em Narratologia. Começou a ler um livro do Sidney Sheldon aos oito anos e nunca mais parou. Hoje, fez das Letras sua profissão.

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