Editora: Valentina
Páginas: 272
Classificação:
CADEN BOSCH está a bordo de um navio que ruma ao ponto mais remoto da Terra: Challenger Deep, uma depressão marinha situada a sudoeste da Fossa das Marianas.
CADEN BOSCH é um aluno brilhante do ensino médio, cujos amigos estão começando a notar seu comportamento estranho.
CADEN BOSCH é designado o artista de plantão do navio, para documentar a viagem com desenhos.
CADEN BOSCH finge entrar para a equipe de corrida da escola, mas na verdade passa os dias caminhando quilômetros, absorto em pensamentos.
CADEN BOSCH está dividido entre sua lealdade ao capitão e a tentação de se amotinar.
CADEN BOSCH está dilacerado.
Cativante e poderoso, O fundo é apenas o começo é um romance que permanece muito além da última página, um pungente tour de force de um dos mais admirados autores contemporâneos da ficção jovem adulta.
O Fundo é Apenas o Começo foi o meu primeiro livro do Neal Shusterman e não poderia estar mais surpresa (positivamente). Foi, também, o meu primeiro livro com alguma referência tão profunda a respeito de transtornos mentais. Quando pedi esse livro evitei buscar informações na internet sobre a história e me deixou absolutamente encantada a escrita e a forma como ele trata com tanta sensibilidade alguns assuntos no decorrer da história. Mas vamos pelo começo.
O livro conta a história de Caden Bosch, um adolescente padrão de 15 anos, com bom histórico escolar, família tradicional (e com isso me refiro só ao modelo familiar de pais juntos e filhos, e não ao esteriótipo em si), não é popular na escola, mas se dá bem com todos e tem 2 amigos mais próximos, Max e Shelby. Tudo está aparentemente bem. Mantem um bom relacionamento com a família, tem uma relação de amor e ódio com a irmã mais nova como todo bom adolescente, está desenvolvendo um jogo junto com os amigos onde é responsável pelos desenhos, até começa a achar que um colega da escola quer matá-lo. Depois ouve cupins na sala de sua casa, e começa a se distrair no meio das conversas, já não se concentra em sala de aula, e não consegue dormir, e agora existem outras pessoas querem matá-lo. No auge do seu surto psicótico, começa então a viver muitas aventuras a bordo de um navio ao lado de outros tripulantes, um papagaio e o Capitão.
É como aqueles momentos em que a gente relembra algum fato marcante que se gravou a ferro e fogo na memória. A ocasião em que você marcou o gol da vitória nas finais ou estava andando de bicicleta e foi atropelado por um carro. Seja a lembrança boa ou má, você é obrigado a revivê-la de tempos em tempos — e, às vezes, depois dessa visita ao passado, a volta ao presente é tão chocante que é preciso lembrar a si mesmo que não se está mais lá.
Agora, imagina viver assim o tempo todo, sem nunca saber ao certo quando vai estar aqui, lá ou em alguma zona intermediária. Se a única medida da realidade que se tem é a própria mente... o que acontece quando ela se torna uma mentirosa patológica?
No decorrer da história o autor vai mostrando a jornada de Caden tanto na realidade quanto nas alucinações e o que esta última representa para a primeira. Vemos a piora, depois como e onde ocorre a "melhora". Mostra também, na medida do possível, a vida de alguém que tem transtornos mentais, a realidade de possíveis tratamentos, a forma como diagnósticos não são fechados, a importância dos medicamentos e da terapia de grupo, e os impactos dessas doenças tanto para a pessoa quanto para a família.
— Lembra quando a gente fazia fortalezas com as caixas de papelão no Natal? — pergunta ela.
Sorrio.
— Lembro. Era divertido.
— Aquelas fortalezas eram tão reais, mesmo sendo de mentira, não eram?
Por um momento, ninguém diz nada.
— É Natal? — pergunto.
Papai suspira.
— Ainda vamos entrar em junho, Caden.
— Ah.
Mamãe está com os olhos úmidos, e me pergunto o que fiz para deixá-la assim.
No final, ele nos afirma que sua obra não é totalmente uma ficção e que sua proximidade com a temática é justamente pelo fato do filho ter um transtorno mental. Não vou me estender muito porque vou acabar dando spoiler, mas se você quiser ler algo diferente e ter uma experiência com esse tipo de temática, esse livro é uma ótima opção.
Trechos da nota do autor:
O fundo é apenas o começo não é exatamente uma obra de ficção. Tudo que acontece com Caden é real. Uma em cada três famílias nos Estados Unidos é afetada pelo espectro da doença mental — um dado de que tenho conhecimento porque a minha é uma delas. Enfrentamos muitas das provações que Caden e sua família enfrentaram. Vi um filho amado viajar até as profundezas da mente, sem
nada poder fazer para impedir a sua descida.
Nossa esperança é de que O fundo é apenas o começo conforte aqueles que passaram por isso e lhes mostre que não estão sozinhos. Também esperamos que ajude outros a sentirem empatia e a compreenderem como é navegar pelas águas obscuras e imprevisíveis dos transtornos mentais.
Por fim, esperamos que, quando o abismo olhar para você — como sempre acontece —, você seja capaz de retribuir o olhar corajosamente.
O livro também tem um book trailer que você pode assistir
aqui.