Se
tem uma coisa que brasileiro gosta é de uma comédia que nos faça rir muito, Paulo
Gustavo está aí para provar. Em 2010, tivemos o prazer de conhecer De Pernas
Pro Ar, uma comédia que inova no enredo e nos faz rir muito. Em 2012, tivemos a
sequência, que foi bom e conseguiu atingir o seu objetivo. Agora é lançado a
continuação, De Pernas Pro Ar 3, que pode surpreender a todos.
Se
tem uma coisa que nordestino sabe é o quanto somos mal caracterizados na
maioria dos filmes, séries e novelas, com sotaques, costumes e culturas representados
como uma só coisa. Ainda bem que temos gente suficiente para mostrar as
peculiaridades de cada povo no cinema. E assim, nós apresentamos CINE HOLLIÚDY
2: A CHIBATA SIDERAL, um filme do Ceará para todo o mundo.
Quando falamos em
cinema brasileiro, muitas vezes, nosso senso nos leva as comédias estilo
besteirol que os brasileiros têm usados há tempos para atrair um público
lucrativo para o cinema. Por outro lado, temos obras magníficas e lembradas
internacionalmente como Cidade de Deus, Tropa de Elite e Central do Brasil (que
rendeu a indicação de Melhor Atriz no Oscar para Fernanda Montenegro).
O que esses filmes
brasileiros, aclamados lá fora têm em comum? Eles mostram uma realidade mais
forte do Brasil, uma realidade que as comédias, muitas vezes desprezam e/ou
debocham. E é justamente em um contexto político como o atual que chega aos
cinemas essa semana o filme O Doutrinador, baseado nas HQs de mesmo nome de
Luciano Cunha.
Quando vi o trailer
pela primeira vez, achei que seria somente mais um filme brasileiro focado em violência
e pancadaria. Mas O Doutrinador tem um modo diferente de apresentar a violência
e há todo um contexto profundo por trás, não deixando que os atos violentos
sejam simplesmente por puro desejo.
O Doutrinador se
passa em uma cidade fictícia não especificada, podendo parecer o Rio de
Janeiro, São Paulo ou Brasília. Além disso, trás um aspecto de Brasil futurista,
com enormes luminárias e telões girantes em arranha-céus enormes.
O filme nos trás a
história de Miguel (Kiko Pissolato), um agente da Divisão Armada Especializada,
que tem como missão prender o governador do estado por desvio de dinheiro da
saúde. Após a prisão, o governador nega todas as acusações. Em meio a tudo
isso, Miguel tem a filha morta por uma bala perdida e ter o atendimento em um
hospital público negado, passando a culpar o estado pela sua falta de recursos
e problemas com corrupção.
Um esquema com o
Supremo Tribunal Federal, concede um habeas
corpus ao governador. Isso geral em Miguel revolta, e no meio de uma
manifestação consegue uma máscara de gás e a usa para lutar contra policiais da
tropa de choque, conseguindo chegar até o gabinete do governador e o matar brutalmente
a socos.
A partir desse ato,
Miguel assume a identidade de O Doutrinador, um justiceiro mascarado que busca ao
mesmo tempo, se vingar pela morte da filha e acabar com um esquema de corrupção
que atinge o país inteiro. O problema que surge em meio a tudo isso é conseguir
alguém que lhe ajude hackeando e-mails e documentos, e nomeio de tudo isso,
surge Nina (Tainá Medina), uma hacker especialista que vai ajudar Miguel em
todos os processos.
O Doutrinador passa a matar todos os políticos envolvidos nessa rede de
corrupção, dividindo opiniões em todo o país sobre os seus atos e podendo modificar
os resultados das eleições presidenciais que estão se aproximando.
É bem interessante o quanto o cinema brasileiro pode ter evoluído com
esse filme, trazendo uma perspectiva diferente da que trazia. Um grupo de vilões
extremamente caricatos, um super-herói com direito a fantasia e tudo, espelhando
o desejo de muitos brasileiros.
O filme traz muitas cenas de ação, com um estilo de luta bem parecido
com os filmes de super-herói estado-unidense, com direito ao “salto de super-herói”
(Pool, Dead, 2016). Além disso, o design visual lembra muitos filmes baseados
em HQs e mangás como Scott Pilgrim Contra o Mundo, Kingsman e A Vigilante do Amanhã.
É claro que comparar O Doutrinador com filmes aclamados como esses não é
exatamente o correto, mas é inegável que um filme nesse estilo nunca foi
produzido no Brasil. Sem contar que a qualidade é inegável e uma das coisas que
mais ouvi depois da sessão acabar foi que realmente foi algo surpreendente.
Outra coisa surpreendente é a atuação dos protagonistas. Kiko Pissolato nunca
foi dos atores mais aclamados, não havia nenhum papel tão importante para ele
até esse momento, somente com algumas passagens por novelas como Amor à Vida
(vale ressaltar que a maioria dos seus personagens nem nome tinha), entretanto,
ele entregou realmente o que o filme precisava, um personagem focado em sua
missão, amoroso quando tinha que ser, sofre quando era necessário, sem contar
as cenas de ação, que o ator demonstrou saber bem o que estava fazendo.
As qualidades técnicas também estão bem diferenciadas do que vinha sendo
trazido no cinema brasileiro, com técnicas que mesclam realidade e computação
gráfica, cenas de ação ensaiadas com estilos de luta que lembram até o Batman.
Realmente foi uma surpresa muito boa assistir esse filme, e ver como a
realidade atual foi exposta, como um candidato a presidência consegue o que
quer se tem o apoio do STF, STE, ministérios distribuídos de acordo com favores
feitos, apoio da bancada evangélica e ruralista, deputados prometendo aprovar
coisas só para agradar um grupo de fanáticos como a aprovação da cura gay e
proibição do kit gay e a bancada evangélica zombando nos bastidores de seus
apoiadores. Nada disso sou eu que estou dizendo, isso é o que está no filme,
mas parece tanto com a realidade que chega a chocar.
No filme estreia hoje, 1 de outubro, em todo o país, assista até o final
e corra para assistir antes que seja proibido pelo próximo governo por acusação
de doutrinação.
Priscila, linguista de formação, doutoranda em Narratologia. Começou a ler um livro do Sidney Sheldon aos oito anos e nunca mais parou. Hoje, fez das Letras sua profissão.