CRÍTICA| TILL: A Busca Por Justiça (2023)


 Em 1955, um brutal caso de violência racial choca os Estados Unidos e leva uma mãe a pressionar as autoridades do país para obter justiça. O crime, ocorrido no Mississippi, expôs para o restante do mundo os absurdos que a segregação racial promovia na região sul do território americano. É essa chocante história que Till – A busca por Justiça nos apresenta, mas seu foco é sobretudo a mãe do garoto, Mamie Till, que percebeu na sua perda uma oportunidade para ajudar a fortalecer a luta pelos direitos de pessoas negras.

Na trama, Emmett Till (Jalyn Hall), um garoto de 14 anos que vive em Chicago com a mãe, Mamie (Danielle Deadwyler), viaja acompanhado do tio para visitar uma parte da família que mora em Money, no Mississippi. Em menos de uma semana no local, contudo, Emmett se tornou mais uma vítima da violência racial americana. Após interagir com uma funcionária branca de uma loja, o adolescente é sequestrado pelo marido dela, que não aceitou uma brincadeira feita pelo garoto. A repercussão do caso fortalece os movimentos que lutam contra o segregacionismo, mas também cobra um alto custo da mãe, que precisa se expor para lutar por justiça.

O filme é dirigido por Chinonye Chukwu, também roteirista e produtora do longa. A cineasta americana com raízes na Nigéria ficou mais conhecida pelo elogiado Clemência (2019), que também teve seu roteiro escrito por Chukwu. Apesar de trazer apenas dois longas no seu currículo, a diretora já demonstrou que domina essa arte e deve aprimorar seu talento cada vez mais através de filmes que discutam temas relevantes como o racismo.



A história de Emmett Till, por exemplo, ocorreu em um contexto bastante conturbado da sociedade americana, em que a segregação racial era legalizada em alguns estados do sul, apesar da existência de organizações que lutavam pelos direitos da população negra, como a NAACP (Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor). Havia, portanto, duas realidades completamente diferentes no mesmo país no que se refere às condições de vida da comunidade negra.

Essa realidade é bem retratada no filme, que mostra, por exemplo, a preocupação da mãe de Emmett com a viagem do menino ao local de origem da sua família. É impossível explicar a segregação sulista para um garoto que nunca saíra de Chicago, segunda cidade com maior população afro-americana na época. Jalyn Hall, interpretando Emmett, passa de maneira bastante convincente a imagem de um menino brincalhão, enérgico e muito entusiasmado, justamente o que acabou envolvendo o adolescente na tragédia.



A maior parte do filme, contudo, depende da atuação de Danielle Deadwyler, que precisa nos convencer e comover para o drama funcionar. De modo geral, a atriz entrega uma personagem forte, determinada e com uma forte ligação com o filho. Nos momentos mais dramáticos, ela também se sai muito bem e sustenta a narrativa. O que não contribui tanto é o excesso de tensão construído por parte da direção do longa, mas isso é algo que não estraga a experiência final.

Till – A busca por Justiça é, portanto, um forte drama a respeito de um dos mais lamentáveis episódios da história americana. É um filme que merece ser assistido e discutido, sobretudo porque a violência racial ainda é um problema bastante atual em muitas partes do globo.

Por Samuel Holanda



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Priscila, linguista de formação, doutoranda em Narratologia. Começou a ler um livro do Sidney Sheldon aos oito anos e nunca mais parou. Hoje, fez das Letras sua profissão.

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