No filme, Gemma (Allison Williams) é uma brilhante roboticista que trabalha para uma companhia de brinquedos num projeto revolucionário: o desenvolvimento de uma inteligência artificial que permita a fabricação da boneca mais inteligente que já existiu. O slogan já diz tudo: “Ela é mais que um brinquedo, ela é da família”. Para testá-la, Gemma presenteia sua sobrinha Cady (Violet McGraw), que acabou de perder os pais em um acidente, com um protótipo. O problema é que a boneca se torna inteligente demais e começa a tomar decisões questionáveis por conta própria.
Esse é apenas o segundo longa do australiano Gerard Johnstone, mas ele consegue entregar um bom filme. Diretor do elogiado Housebound (2014), Johnstone teve ainda o apoio do experiente diretor e produtor James Wan, que conduziu filmes como Jogos Mortais (2004) e Invocação do Mal (2013). A história foi escrita por Akela Cooper, roteirista de Maligno (2021), mas passou por mudanças nas mãos de Wan. Vemos, portanto, que James Wan é o grande nome por trás desse projeto, que tem um resultado surpreendente, apesar de passar longe da perfeição.
O filme consegue criar uma atmosfera de terror e suspense, principalmente porque há um contraste entre a aparência de M3GAN e suas atitudes questionáveis. A boneca é sofisticada, visto que foi produzida para criar vínculos afetivos com as crianças. Sua programação, porém, possui imperfeições resultantes da dificuldade de ensinar questões éticas ou morais a uma máquina. Ok, nenhuma novidade. Mesmo assim, quando vemos M3GAN em ação, parece que somos fisgados pelos trejeitos da boneca e ficamos hipnotizados.
Há, contudo, dois grandes problemas no longa que podem prejudicar a experiência no cinema. Um deles é a falta de desenvolvimento de alguns personagens, que nos impede de sentir a ameaça causada pela boneca. Mesmo a protagonista e sua sobrinha, ainda que sejam bem construídas, nos causam um pouco de antipatia em dado momento.
Outra questão é atuação de alguns atores, que beiram à caricatura e fazem parecer que o filme é quase uma paródia. É possível que não incomode o público em geral, mas deve desagradar a alguns cinéfilos mais exigentes. O longa fica com um tom ambíguo, entre o drama da relação tia-sobrinha e a atuação caricatural de outros personagens (inclusive da própria boneca assassina).
M3GAN é, enfim, um bom filme de terror, ainda que tenha seus problemas. Apesar de genérico, deve agradar a um público bem amplo, especialmente porque não traz cenas com violência extrema. Além disso, o marketing conseguido pelas dancinhas virais deve levar muita gente aos cinemas e garantir o sucesso da bilheteria.