Precisamos Falar Sobre: Julie and the Phantoms


 Uma coisa que não temos costume é de apreciar algumas séries infanto-juvenis que a Netflix disponibiliza. Mas uma coisa que temos que pensar é que muitas dessas séries podem funcionar como válvula de escape, pois não trazem uma narrativa muito densa e desenvolvem muito mais rapidamente. No meio de tudo isso, surge uma série que chamou muita atenção esse ano: Julie and the Phantoms. Mas o que essa série tem de diferente de todas as outras que faz ela funcionar tão bem?

Primeira coisa que você tem que saber é que Julie and the Phantoms é um reboot de uma série brasileira, Julie e os Fantasmas (sim, uma série americana baseada em uma brasileira), coproduzida pela Band e pela Nickelodeon, e acompanhávamos a vida de uma jovem chamada Julie (Mariana Lessa) que um belo dia encontra um vinil de uma banda desconhecida e resolve ouvir, e no mesmo instante, três fantasmas aparecem para ela. Depois de todo aquele impacto inicial, eles formam uma banda.


No reboot da Netflix, a premissa permanece a mesma, mas com algumas coisinhas diferentes. Aqui nós encontramos com uma garota também chamada Julie (Madison Reyes), que desenvolve um trauma com a música depois da morte da mãe que era musicista. Com a família decidida a se mudar para recomeçar a vida, a casa começa a ser organizada para a venda. Quando Julie vai ao estúdio em que a mãe tocava, encontra um CD de uma banda chamada Sunset Curve e resolve ouvir, e então três fantasmas aparecem, Luke (Charlie Gillespie), Alex (Owen Joyner) e Reggie (Jereme Shada).

 

É então que a vida de Julie muda completamente. A presença dos fantasmas traz a vontade da garota de ter contato com a música novamente, ao ponto de eles montarem uma nova banda chamada Julie and the Phantoms. É aí que entra uma grande diferença entre a versão brasileira e a da Netflix. Enquanto na versão brasileira os fantasmas usam roupas que cobrem completamente os “corpos”, aqui eles são apresentados como hologramas.


Com essa premissa, a série apresenta o que a Netflix vem mostrando há muito tempo, que não é preciso ser algo extremamente bobo para agradar as crianças. Por isso, criei uma lista de motivos para darmos mais visibilidade a Julie and the Phantoms:


1. Morte como tela de fundo para emoções

Apesar de todo esse enredo parecer algo simples e bobo, a Netflix conseguiu mudar completamente o modo de fazer história para crianças. Em Julie and the Phantoms há uma carga emotiva muito forte, principalmente por tratar de personagens que lidam diretamente com a morte, sendo eles estando mortos ou sofrendo pelo luto. Além de terem que lidar com assuntos inacabados.


O primeiro ponto a se colocar é o modo como a série lida com a morte, mostrando que durante todo esse processo há sofrimento, e pontuando que nós temos que superar, podendo fazer isso sem esquecer quem nós amamos. Além disso, nos apresenta a questão de sempre tentarmos resolver nossos assuntos, indo em busca de nossos sonhos e lutando para torná-los realidade. 

Isso nos leva à uma das cenas mais fortes da série, na qual é apresentada a música “Unsaid Emily”, e descobrimos a difícil relação entre Luke e a família antes de sua morte e tudo o que isso acarretou em seus pais.

 



2. Personagens LGBTQIA+ e a quebra da masculinidade tóxica

Outra coisa que chama atenção é a apresentação espontânea de um protagonista gay, no caso Alex, o baterista da banda. Já no segundo episódio, é contado que Alex foi expulso de casa por ser gay, por isso sua grande dedicação à banda. 


Há uma desconstrução com relação à sexualidade e masculinidade dos protagonistas. Inclusive, há boatos criados pelos atores Owen Joyner e Charlie Gillespie que seus personagens, Alex e Luke, respectivamente, já tiveram um caso, antes morte. Em outro momento, Luke mostra que pode seduzir qualquer pessoa e joga seu charme para Reggie que afirma estar realmente apaixonado pelo companheiro de banda.

 

No desenvolver da série, Alex se envolver romanticamente com Willie (Booboo Stewart), de um jeito meigo, simples e divertido. Com direito há vários momentos fofos de romantismo entre eles.

 



3. Kenny Ortega por trás de tudo

Há que se ressaltar, também, a presença de Kenny Ortega na direção, que traz várias referências de outras produções famosas dele, como High School Musical e Descendente. Com isso, uma boa parte do elenco vem justamente de Descendente com Booboo Stewart como Willie, Jadah Marie como Flynn e Cheyenne Jackson como Caleb. 


Outra coisa é o animal que representa a escola em que Julie estuda, que é um lince, em referência aos wildcats de High School Musical. Além disso, a recriação da famosa dança do filme Dirty Dancing, refeita por Madison e Charlie, que foi originalmente coreografada por Ortega.

 



4. Amizade como fundamento

Não se pode falar sobre Julie and the Phantoms sem falar de um dos pontos mais fortes: a amizade. Jadah Marie é uma grande aposta acertada de Ortega e entrega uma das personagens mais cativantes da série, Flynn, a melhor amiga de Julie e que está com ela em todos os momentos, felizes e tristes, demonstrando como uma verdadeira amizade deve ser, brigando quando deve brigar e apoiando quando dever ser apoiado. Flynn é aquele tipo de pessoa que faz de tudo para que a amiga cresça e supere a morte da amiga, sem querer ser melhor que ela.

 


Em outro lado, temos os três fantasmas que colocam sua amizade acima de tudo, sempre tomando decisões juntos e apoiando uns aos outros, e levando essa parceria para Julie, e consequentemente para Flynn, mostrando que o trabalho em equipe pode levar a qualquer lugar.

 



5. Química do elenco

Claro, que não pode-se esquecer do elenco incrível que tem uma química muito difícil de achar em outras produções, principalmente com um número maior de protagonistas. Madison, Jadah, Charlie, Owen e Jereme parecem ser amigos de anos, sempre interagindo uns com os outros de forma divertida e sincera. 


Inclusive, há boatos de que Charlie e Owen tenham um relacionamento fora das telas. Os dois até foram juntos ao casamento de Jereme no começo do ano. Além de várias viagens juntas (somente os dois ou os três e a esposa de Jereme) antes mesmo do lançamento da série.

 

Vale ressaltar que é o primeiro trabalho de Madison, o que mostra que ela tem um futuro incrível pela frente. Para Charlie, esse é o seu primeiro grande papel, antes tendo apenas papeis secundários. Owen já é conhecido dos fãs de Nickelodeon, tendo protagonizados duas séries: 100 Coisas para fazer antes do High School (Crispo) e Esquadrão de Cavaleiros (Arc). Jereme é muito mais conhecido por sua voz, pois ele é dublador profissional desde pequeno, tendo como principal trabalho a voz original de Finn de Hora de Aventura e Lance em Voltron: Legendary Defender. Jadah tem algumas participações secundárias na trilogia Descendente e no filme Jogador Nº 1. E Booboo Stewart é provavelmente o mais conhecido, por ter sido protagonista de Descendente e ser um dos lobisomens na Saga Crepúsculo.

 

6. Músicas autorais

Agora um dos melhores pontos a série, a trilha sonora. MEU APOLO! Como eu queria assistir um show de Julie and the Phantoms. As músicas são bem escritas, dançantes, emocionantes. Elas carregam a carga emocional que cada cena exige. 


E não pense que por se tratar de uma série musical, as pessoas começarão a cantar e dançar do nada como em High School Musical. Não! As músicas são colocadas como apresentações individuais ou da banda, o que não deixa aquele ar de “como todo mundo sabe a coreografia?”.

A série tem um tipo de música para cada ocasião e com excelentes músicos por trás das produções. Você se emociona ouvindo Wake Up, sente-se amado com Flying Solo, se apaixona em Perfect Harmony e chora em Unsaid Emily. Vale muito a pena ouvir o álbum todo depois de assistir todos os episódios, e eles estão disponíveis em todas as plataformas digitais e no Youtube.


7. Representatividade 

E por último e mais importante: REPRESENTATIVIDADE!!! Nós temos uma protagonista e sua melhor amiga, ambas negras. Julie, além de negra, também é filha de uma latina. As duas demonstram a todo momento o orgulho de suas origens, seja através do uso de vários cortes de cabelo afro, até a utilização de expressões em espanhol com a família.

 

 



Por isso, se você tem 4 horas e meia disponível em seu dia, assista Julie and the Phantoms, pois são apenas 9 episódios de 30 minutos cada e se surpreenda com cada plot twist, odeie os vilões caricatos e sinta-se estranho em shippar uma ser humana com um fantasma. Eu poderia passar o dia inteiro só falando dessa série de tão importante que ela foi pra mim esse ano (já assisti 4 vezes #atualização 5).

 


Julie and the Phantoms está disponível na Netflix.



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Priscila, linguista de formação, doutoranda em Narratologia. Começou a ler um livro do Sidney Sheldon aos oito anos e nunca mais parou. Hoje, fez das Letras sua profissão.

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