Inicialmente,
é necessário lembrar que após o início da pandemia e com questões de isolamento
social e fechamento do comércio, muitos dos lançamentos importantes desse ano,
como Viúva Negra e Mulher Maravilha, acabaram sendo adiados para o ano que vem,
quando o número de salas cinemas talvez esteja maior. Então, os poucos
lançamentos que tivemos esse ano, fora os que foram direto para streaming, tiveram
um foco muito mil vezes maior do que poderiam ter se lançados em temporadas
normais.
E é
justamente aí que entra um grande erro da Warner. Lançar um remake de um
clássico dos anos 90 em meio a uma pandemia com todo o foco voltado para ele,
principalmente depois do fracasso que foi Novos Mutantes, tanto pela crítica
quando pelo público. Era necessário ser algo muito grandioso para conseguir
levar os espectadores ao cinema.
Mas
antes de pontuar onde o filme erra, precisamos lembrar um pouco da narrativa. Em
Convenção das Bruxas, acompanhamos o recém órfão chamado apenas de O Garoto /
Hero Boy (Jahzir Kadeem Bruno e Chris Rock) e sua Avó (Octavia Spencer), que após
perceberem que há uma bruxa em sua pequena cidade, resolvem ir à um hotel de
luxo com a expectativa de não haver um ataque lá, já que bruxas não atacam
crianças ricas pois seriam mais procuradas.
O
problema é que ao chegar ao hotel, O Garoto descobre que há uma convenção de
bruxas no mesmo hotel e que a Grande Bruxa (Anne Hathaway) possui um plano para
acabar com todas as crianças do mundo. Assim, O Garoto, seu novo amigo Bruno (Codie-Lei
Eastic), sua ratinha de estimação (Kristin Chenoweth) e sua Avó entram em uma
missão para acabar com o plano.
Quando
observamos que um dos roteiristas é ninguém menos que o vencedor do Oscar de Melhor
Filme e Melhor Diretor Guillermo Del Toro (O Labirinto do Fauno, A Forma da
Água, Hellboy, O Hobbit, Festa no Céu e muitos outros), que também produz o filme
junto do vencedor do Oscar de Melhor Diretor (2 vezes), Melhor Edição, Melhor Fotografia,
Melhor Filme Estrangeiro, Alfonso Cuarón (Roma, Gravidade, O Labirinto do
Fauno, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban e muitos outros) não tinha nada
para dar errado no roteiro e a quantidade furos que encontramos é de algo a se
admirar. Entrando em um pequeno spoiler, o motivo do Garoto e da Avó irem para
o hotel é ficar em um lugar rico pois bruxas não atacam crianças ricas por elas
serem mais procuradas pelas autoridades, só que a primeira criança a ser
atacada pela Grande Bruxa é justamente uma criança rica.
Além
disso, o roteiro não sai de baixo. Normalmente, em um filme, temos uma
introdução mais baixa, seguida de um momento mais alto (ápice) e finaliza com
uma decaída lenta até acabar. Em Convenção das Bruxas não existe esses
momentos, pois quando você acredita que a narrativa vai evoluir, volta para
algo totalmente inválido ao que vinha sendo desenvolvido, e isso acontece até o
final. Ou seja, quando o espectador cria a expectativa de uma evolução na
narrativa, o foco muda completamente de lado deixando a parte o que estava por
vir.
Por
isso, não é difícil compreender o motivo de não ter agradado nem a crítica e
nem os espectadores. Além de não parecer em nada com a emoção do primeiro
filme. Uma tentativa falha de substituir o horror que as bruxas passaram nos
anos 90 com maquiagem por tecnologia de computação gráfica ficou algo bizarro e
não passa nenhum medo. A cena clássica da desmontagem das bruxas ficou
parecendo com um filme de terror para crianças, quando o pensamento é “vamos
assustar, mas vamos fazer eles riem”, só que nem assusta e nem sorri.
Um
dia poucos pontos a se considerar é a atuação de Octavia Spencer e Anne
Hathaway, que apesar de estar aceitável, não é de longe a melhor atuação delas,
que já entregaram apresentações muito melhor. Lembrando que as duas possuem o
Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, e que a atuação em Convenção das Bruxas não
chega nem perto.
No
final das contas, para os fãs de Convenção das Bruxas, não sei se vale a pena
correr o risco de ir até o cinema apenas para assistir ao filme, que não é digno
de nenhuma lembrança. Prefiro guardar comigo as sensações de passar uma tarde
vendo a primeira versão.