Depois de 11 anos de
exibição, no mês passado chegou ao fim uma das séries mais lucrativas da
história: Modern Family. Coberta por polêmicas negativas e quebras de tabus,
temos uma série que nos faz questionar sobre nossos valores familiares, como qualquer
nível de idade tem suas dificuldades e sobre união. E então, qual o legado que
Modern Family nos deixa? Uma série com 11 temporadas tem que deixar uma coisa
para a posteridade.
Na história central temos
os Pritchett, liderados pelo pai Jay, um senhor de 60 anos, casado com Gloria,
uma colombiana que é mais nova que sua filha Claire e quase da idade do seu
filho Mitchell. Gloria já tinha um filho do primeiro casamento, Manny que tem a
mesma idade do filho mais novo de Claire, Luke. Isso faz com que Jay também
assuma o papel paterno de Manny. Claire é casada com Phil Dunphy, com quem tem
três filhos, Haley, Alex e, claro, Luke. Mitchell é namorado de Cameron Tucker,
com quem adotou a bebê Lily.
Antes de falarmos um
pouco sobre as características é necessário falar sobre cada um dos personagens
individualmente e suas personalidades. Começando por Jay (Ed o’Neill), que é um
senhor de meia idade, dono de uma empresa de venda e construção de armários, e
como a maioria das pessoas estado-unidense demonstra muitos traços racistas e
homofóbicos. Enquanto isso, Gloria (Sofia Vergara) é um estereótipo exagerado e
preconceituoso de colombiana, sempre muito violenta, com uma família gigantesca
e invasiva. Enquanto isso, o filho de Gloria, Manny (Rico Rodriguez) é o estereótipo
de descendente de latinos que tenta aceitar sua cultura de origem e ao mesmo
tempo que aceita a cultura dos Estados Unidos, além de ser uma criança/jovem
muito certinho e sendo visto como o mais adulto da família.
Entrando nos Dunphy, Claire
(Julie Bowen) é a típica dona de casa que vive para cuidar do marido, dos
filhos e da casa, mesmo tendo se formado na faculdade e ser muito inteligente.
Phil (Ty Burrell), consequentemente, se encaixa no papel de pai da família, o
provedor, o que sai de casa para trabalhar, como corretor de imóveis, enquanto
a mulher está em casa. Além disso, notasse que ele tem graves problemas com déficit
de atenção e em vários momentos age como criança, e muitas vezes secando Gloria
na maior cara dura. Haley (Sarah Hyland) é a garota rebelde, popular no
colégio, com vários namorados e várias seguidoras. Por outro lado, Alex (Ariel
Winter) é a irmã superdotada, uma garota extremamente inteligente que faz de
tudo para se superar. E finalmente, Luke (Nolan Gould), o garotinho da família
que parece ter permissão para fazer o que quiser, sem se importar com as
consequências.
Por fim, temos Mitchell,
que no início é o mais novo dos Pritchett, é assumidamente gay, mas como diz a
expressão: um gay fora do meio. Mitchell (Jesse Tyler Ferguson) renega muita
coisa da comunidade LGBT, demonstrando apenas dentro de seu lar como se
comporta de verdade, mas ainda assim, com restrições. Felizmente, é advogado
ambientalista, ainda que não seja o desejo de seu pai. Já Cameron (Eric
Stonestreet) é um gay caipira, nascido no campo, muito afeminado, literalmente,
assumindo os papeis ditos femininos da série. Já Lily (Aubrey Anderson-Emmons),
quando cresce, se torna uma garota extremamente controladora e impulsiva.
Com uma série cheia de tantos estereótipos
ruins como ela pode funcionar?
Modern Family é uma série
muito carismática. Apesar de ter diálogos muitas vezes sem sentido algum, o
estilo pseudodocumentário, em que certos momentos dos episódios os protagonistas,
sentados em seus sofás, falam sobre determinado assunto que envolve aquele
momento do seu ponto de vista., faz com que o telespectador se sinta muito mais
próximo dos personagens. Outro fato importante é que as situações lembram muito
as vividas em famílias reais, fazendo quem assiste se identificar mais com a trama.
Uma coisa que devemos
pontuar também é que a produção da série soube ouvir as críticas e
desenvolvê-las melhor dentro das temporadas. Por exemplo, no início se
questionava muito como a série se chamava Família Moderna se todas as mulheres
casadas da família eram donas de casa, sem importância para a vida econômica de
seus lares. Por isso, com o tempo Claire passa a trabalhar com o pai, e
Cameron, tendo uma posição feminina no relacionamento, também começa a trabalhar
na escola, e depois de vários cargos, se torna treinador e professor de
educação física.
Outra questão muito forte
é a falta de personagens negros. Eles são quase inexistentes e passamos
praticamente temporadas inteiras sem ver nenhum ator negro em cena. Um
personagem negro ainda é apresentado como um cirurgião vizinho dos Dunphy, mas
não tem nenhuma importância para a história e dá para contar nos dedos o número
de aparições dele durante toda a série.
Não podemos esquecer
também o universo LGBT ao qual a série deveria estar inserida. Não podemos
negar sua importância para a causa, a final, foi uma das primeiras séries que
trouxe um casal gay como protagonista. O problema é justamente esse, eles só
são um casal gay. Inclusive, em alguns momentos eles mostram que ser gay é uma
vantagem, como quando estão buscando uma escola para Lily e descobrem que as
escolas brigam para ter filhos de casais LGBTs. Outro fator é que sempre que há
um caso de suposta homofobia, eles acabam descobrindo que não era o que eles
achavam colocando-os, muitas vezes, em papeis de culpados.
Apesar de todos esses
problemas, a série consegue demonstrar uma coisa muito bem: o amor em família
pode lhe salvar de qualquer coisa. Jay, por exemplo, tenta descontruir toda sua
homofobia e machismo durante todos os momentos, aceitando quando está errado,
mas mostrando que essa transformação não acontece do dia para a noite, precisando
de tempo para se adequar aos novos tempos.
Phil também faz de tudo
para a família estar unida, e é provavelmente, o personagem homem heterossexual
mais feminino da série, em vários momentos sendo confundido com um homem gay,
pelo simples fato de ser extremamente afetuoso com todos o tempo todo.
Haley e Alex tem um
relacionamento que lembra o de muitos irmãos, em que vivem brigando pelas
coisas mais ridículas possível, mas quando uma precisa a outra está sempre lá.
Enquanto Manny e Luke, tem um companheirismo tão grande que as vezes o próprio
Manny tem que lembrar que tecnicamente ele é tio de Luke, mas isso não os
impede de serem eles mesmo.
Gloria e Claire também
evoluem muito durante a série. Ainda nas primeiras temporadas descobrimos que
Claire nunca aceitou muito bem o fato de seu pai ter casado com uma mulher mais
nova que ela, mesmo sabendo que a colombiana realmente ama seu pai e que não
tem interesse em seu dinheiro.
Uma coisa que chama
bastante atenção no desenvolvimento da série é que como ela tem 11 anos, vemos
praticamente todos atores crescendo e envelhecendo. E essa transformação fica
mais evidente com Nolan Gould, Rico Rodriguez, Ariel Winter e principalmente
Aubrey Anderson-Emmons. Aubrey tinha aproximadamente 2 anos quando começou a
interpretar Lily e agora se despede da personagem 11 anos. Já com Nolan o
estranho é ver ele começar atuando com 10 anos, menor que Ariel e Sarah, suas
irmãs na série, e lá pela 5ª ou 6ª temporada já é um dos mais altos do elenco.
Isso me faz lembrar muito Harry Potter, quando vimos os atores crescer e se
tornarem adultos.
Aubrey Anderson-Emmons |
Ariel Winter |
Nolan Gould |
Rico Rodriguez |
Não podemos esquecer da quantidade de prêmios que tanto Modern Family quanto o elenco ganharam nesses 11 anos, sendo eles: Globo de Ouro de Melhor Série de Comédia ou Musical (2012), Emmy de Melhor Série de Comédia (2010 e 2011), Melhor Roteiro de Série de Comédia (2010 e 2011), Melhor Ator Coadjuvante em Série de Comédia para Eric Stonestreet (2010) e para Ty Burrell (2011), Melhor Atriz Coadjuvante em Série de Comédia para Julie Bowen (2011), GLAAD de Excelência em Série de Comédia (2011), People Choice Awards de Favorita Familia de TV (2011). Isso sem contar as inúmeras indicações e outros prêmios.
Apesar dos pesares, a
série é ótima para relaxar e nos fazer rever os valores familiares de cada um.
E ainda que tenha 11 temporadas e uma média 24 episódios cada uma, cada episódio
tem apenas 22 minutos, o que deixa tudo mais fácil de assistir.
Modern Family está com as
10 primeiras temporadas disponível na Globoplay e com as 5 primeiras na Netflix
(será inseria as temporadas de 6 a 10 no próximo dia 02 de junho). Corre lá e
aproveita esse período de quarentena para maratonar e criar estratégias de como
não matar seus familiares depois de tanto tempo juntos.
CURIOSIDADE: Se você acha que já viu Sarah Hyland, a Haley de Modern Family em algum lugar, é porque a atriz já é conhecida pelo público juvenil pelos seus papeis em outras produções como Um Geek Encantador, Academia de Vampiros, XOXO e a mais recente e uma das favoritas desse blog a versão adulta da Rainha Seelie da série Shadowhunter.