"Shadowhunters, melhores de preto do que a viúva de nossos inimigos, desde 1234" |
Só
digamos que Cassandra Clare pertence a realeza da fantasia (claro que JK Rownling
é a rainha), e para aqueles que não sabem, a série de Shadowhunters foi baseada
na série de livro Instrumentos Mortais da autora. A última parte da história dos
caçadores de sombras começa a ser lançada hoje na Netflix, por isso, hoje
precisamos falar urgente sobre Shadowhunters e os perigos de adaptar um livro
de qualquer jeito.
A
série de livros Instrumentos Mortais começou a ser lançada nos EUA em 2007, mas
chegou ao Brasil apenas em 2010. Nela temos como enredo principal a história de
Clare Fairchild, uma jovem comum de 16 anos que no dia do seu aniversário
descobre que sua mãe escondeu um segredo por toda sua vida e que ela na verdade
é uma caçadora de sombras, humanos que pertencem a uma raça descendente de
Jonathan Christopher, um humano que bebeu do Cálice Mortal com o sangue do anjo
Raziel e se tornou um nephilim, filho
do anjo.
Em
meio a todo esse novo mundo, Clare descobre que a mãe foi levada por um grupo
chamado Ciclo, um grupo de Shadowhunter que tem o desejo de eliminar qualquer resquício
de demônios no mundo, o que inclui os sub-mundanos, seres que descendem de demônios
ou são infectados com doenças demoníacas, sendo eles, feiticeiros (filhos de demônios
com humanos), seeles/fadas (filhos de anjos e demônios), lobisomens e vampiros
(doenças demoníacas). Isso tudo porque o líder do Ciclo precisa do Cálice
Mortal que foi escondido há anos pela mãe de Clare.
Para
ajudar Clare em suas missões temos vários companheiros, o primeiro é Jace Wayland,
o par romântico de Clare e quem cruza de diversos modos sua vida, Simon Lewis,
o melhor amigo de Clare, Isabelle (Izzy) Lightwood, irmã de adoção de Jace, Alexander
(Alec) Lightwood, irmão de adoção de Jace, Magnus Bane, o Alto Feiticeiro do
Brooklyn e Luke Graymark, lider de uma alcatéia de lobisomens.
Apesar
de ser uma série de fantasia, temos temas bem interessantes desenvolvidos
dentro dela, como por exemplo, Alec descobrindo sua sexualidade e saindo dos
padrões de conduta dos Shadowhunter e se apaixonando Magnus, que está descobrindo
como reconquistar a confiança em ter uma mor. Izzy tentando se libertar dos
padrões femininos de bela, recatada e do lar. E Simon com seu problema com ter
se tornado um vampiro e não conseguir seguir sua religião por ter se tornado um
ser demoníaco, além de tentar lidar com a friendzone.
Da esquerda pra direita: Luke, Alec, Izzy, Clare, Jace, Simon e Magnus |
Todo
universo dos caçadores de sombras conta com aproximadamente 25 obras, entre
publicadas e as que já tem data de publicação. Ou seja, Cassandra Clare não
vive, ela só escreve com a função de nos fazer falir.
Mas
após tudo isso, precisamos voltar para tema central. Em 2013, foi lançado o filme
Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos. Digamos que o filme seguiu realmente
o primeiro livro, contou os acontecimentos, nos ambientou e funcionou como um
primeiro livro deve ser, só que FRACASSOU. Quando assisti a primeira vez não
tive vontade nenhuma de ler os livros, me pareceu só mais uma fantasia com um
propósito romântico. Para quem ler obras como Harry Potter e Percy Jackson
desde jovem, sabe o que é ter uma fantasia em que o romance não é o ponto chave
do texto, mas sim a ação, e o filme mostra o oposto disso.
Creio
que foi justamente por aí que o filme não seguiu um caminho tão legal. Eles
forçaram tanto o romance entre Clare e Jace logo no primeiro filme que não
funcionou, ficou parecendo mais uma comédia romântica do que um filme de
fantasia. Sem contar que dispensaram totalmente a importância dos outros personagens
para a narrativa, e olhe que as escolhas dos atores estava melhor do que a da
série. Coloco exceção somente para Jamie Campbell Bower (versão jovem de
Grinderwald em Harry Potter e em Animais Fantásticos), que a única
característica que parece com Jace é o fato de ser branco e loiro, porque de
resto não tem nada. Vale lembrar que esse também foi um dos primeiros grandes
trabalhos de Robert Sheehan, que fez o papel de Simon, e hoje temos vários
filmes e séries com ele como protagonista, como os recentes Máquinas Mortais e
Umbrella Academy.
Como
essa adaptação não deu muito certo, em 2015 foi anunciada uma nova, dessa vez
feita em uma parceria entre a emissora américa Freeform e a Netflix e seria uma
série. Assim surge Shadowhunter: The Mortal Instruments, ou somente
Shadowhunters como é chamada no Brasil. Com isso, novos atores, equipe de produção
nova, novos cenários, só que os fãs dos livros não contavam: uma nova história.
A
primeira coisa que temos que ter em mente é sobre teorias da tradução. Um texto
para ser traduzido ele não pode ser levado ao pé da letra para uma outra língua.
Do mesmo jeito acontece do livro para o televisão ou cinema. Por isso, segundo
Christiane Nord (teórica dos Estudos da Tradução), existe uma linha entre muito
tênue entre uma tradução e uma adaptação. A tradução acontece quando levamos de
um meio para outro sem grandes modificações, apenas se baseando no público
alvo, já a adaptação acontece quando modificações consideráveis são feitas no texto
no texto original para que se adeque as necessidades do público alvo.
Agora
a pergunta que não quer calar: Baseado na teoria de Nord, Shadowhunter é uma tradução,
uma adaptação ou nenhum dos dois?
Seria
necessária uma pesquisa profunda para conseguir a resposta, mas observando como
estudioso da tradução de modo geral, creio que ela não se encaixa em nenhum dos
dois. Algumas coisa que acontecem na série são totalmente justificadas, como por
exemplo, a mudança da idade da Clare de 16 para 18 anos, apenas de nem sempre
dar certo (Percy Jackson que o diga), é uma forma de não deixar os atores tão longe
da realidade de idade os personagens. Teen Wolf, por exemplo, as atrizes tinham
quase 30 anos interpretando adolescentes de 15 e isso não interferiu em nada,
mas com o passar da série começamos a notar da diferença de idade.
A PARTIR DAQUI, SPOILER SOBRE AS 3
TEMPORADAS DE SHADOWHUNTERS SERÃO DADOS, POR ISSO, CASO NÃO TENHA ASSISTIDO E
NÃO QUEIRA SABER, PARE O TEXTO POR AQUI.
Entretanto,
mudanças desnecessárias foram feitas com personagens importantes. É o caso de
Luke Graymark, que na história original é um bibliotecário, quase um pai
adotivo para Clare e na série é um detetive de polícia. Outro é Hodge
Starkwearther, nos livros temos um shadowhunter calmo, que não se envolve em
brigas, um estudioso, tutor de Jace, Alec e Izzy e diria até que é o senhor certinho
se não fosse por ser ex-membro do Ciclo, já na série vemos um Hodge totalmente
diferente, um exímio lutador, forte, bombado que não pega em um livro.
Além
disso, há o caso de atores selecionados que não condizem em nada com o papel. O
pior de todos é Madame Dorothea, que nos livros é descrita como uma senhora de
idade que foi criada por uma feiticeira, sem qualquer poder e já é morta no
primeiro livro por estar possuída por um demônio, já na série é interpretada
por Vanessa Matsui, uma atriz que deve ter em torno de 30 anos, se apresenta
como uma amiga descolada de Jocelyn (mãe de Clare) e uma excelente feiticeira.
Sem contar que a mesma chega tentar ficar com Magnus Bane durante uma discursão
dele com Alec.
Em cima temos a versão da série e a abaixo temos a atriz do filme |
Se
fosse somente o fato de os personagens não corresponderem a suas atitudes nos
livros, poderia ser que maioria dos fãs dos livros deixasse passar, entretanto,
os fatos são alterados até mesmo em acontecimentos.
Primeira
coisa, qual a necessidade de matar Jocelyn na segunda temporada? Nos livros a
personagem não morre e é de extrema importância para a continuação, inclusive,
se não me engano, a última cena do último livro é justamente o casamento dela com
Luke. Por outro lado, Max, irmão de Alec, Izzy e Jace não morre durante o
ataque de Sebastian, e é justamente esse fato que vai fazer o comportamento dos
irmãos perante a luta mudar, buscando vingança pela morte do irmão mais novo,
sem contar que nome Magnus daria a seu primeiro filho com Alec, já que Max é o
nome que ele dá em homenagem ao irmão falecido do amado?
É
aí que entra mais um problema. Foram tantos personagem acrescentados sem
necessidade que mais uma vez a série se perdeu nisso. Madzie, por exemplo, é
uma criança feiticeira que quase imposta como uma filha adotiva do casal Malec,
bem forçado. Outro caso é Victor Aldertree, que é enviado da Clave para
controlar o Instituto de Nova Iorque, e ele simplesmente faz Izzy ficar viciada
em yin fen, veneno de vampiro.
São
tantos pontos de mudança entre os livros e a série que não considero nem uma
tradução, nem uma adaptação. Os dois seguem histórias diferentes, com personagens
com motivações diferentes, realidades diferentes, situações diferentes. Só que
desde o começo da segunda temporada, percebemos que a narrativa estava se
perdendo, com vários episódios que não influenciam em nada no decorrer da
história, coisas que aconteciam sem justificativa apenas para fazer andar.
Cassandra
Clare nos entregou um universo riquíssimo de vida e de detalhes e infelizmente Freeform
e Netflix sofreram na pele o que é levar uma obra tão grandiosa para as telas. Creio
que Shadowhunters ainda durou muito, tendo em vista que outros projetos de
adaptação nem sequer saíram do papel. Por outro lado, se tivessem aproveitado
bem as oportunidades, a série poderia ter se tornado a nova queridinha do público.
São tantos livros, com personagens próprios de cada um que seria totalmente
possível fazer uma série com 6 temporadas, mais 4 spinoff baseados nas
trilogias, sem contar os livros de Magnus, Simon e sobre o Comércio das Sombras.
A
falta de aproveitamento do potencial de Shadowhunter dificultou tudo, afinal,
mesmo com os números de audiência caindo, ainda eram considerados altos se
comparados a outras produções da Freeform e até mesmo da Netflix. Os fãs ainda
conseguiram deixar por vários a #SaveShadowhunter nos TTs do Twitter, houve campanha,
abaixo-assinado, avião com faixa sobrevoando os estúdios e até placa luminosa
na Times Square. Infelizmente a série não tinha condições se sustentar ainda
dizendo ser uma história baseada nas obras de Cassandra Clare.
Diferente
de muitos fãs dos livros que odeiam com unhas e dentes a série, eu não. Eu amo
a série, foi justamente por causa dela que resolvi ler todos os livros, mas é também
por isso que reconheço que ela já deu o que tinha que dar.
Teremos
que esperar até o dia 6 de maio para ver como as produtoras conseguiram
finalizar algo tão épico como a saga de Instrumentos Mortais. Para os que ainda
amam a série, ela voltou hoje, 25 de fevereiro com dois episódios novos, é só
correr na Netflix que ela estará lá.
Ah essa série! Olha, vou dizer que sou uma que entra em loucura pra ler cada um que sai, adoro os livros e a forma gostosa que a autora escreve essas fantasias e romances e ainda coloca uns temas bem legais e importantes no meio. É muito bom de ler. Sempre quis uma adaptação, por isso e fiquei feliz quando anunciaram filme. Mas confesso que já tinha odiado a escolha do Jace porque só tinha cabelo e pele igual mesmo, de resto nunca vi meu Jace nesse menino. A pena foi o filme ter ficado bobo. Muito romance, foco errado, coisa que não era pra ser contada logo e foi...o vilão que meu senhor, aquele ator já fez papeis melhores viu... Foi uma forçação ali que dava enjoo. O único que gostei foi do Simon mesmo. Esse ator foi ótimo e adorei ver ele agora em The umbrella (melhor personagem!).
ResponderExcluirA série já trouxe algumas alegrias a mais. De novo não fui tanto com o cara do Jace, ainda não vi meu personagem ali, mas ele até que vai me convencendo. Tem muita mudança de personagem mesmo, umas coisas que fiquei bem incomodada, o começo da série bem ruim...só que ainda vi com esperança e até que foi ficando legal. Não como os livros, mas legal. Esse negócio do Alec e dos olhos nem vi tanto incomodo, gosto do jeito que o ator faz o personagem e isso me convenceu. O trem da Jocelyn, pelo amor. O que foi aquilo né?! E mais um monte de mudanças. E é, fiquei boba de terem continuado depois daquela primeira temporada, mas fã é trouxa, sempre quer ver mais um pouco mesmo que esteja ruim xD
Sei lá, é uma série que ao menos trouxe um pouco dos personagens à vida nas telas, mesmo com tanto errado. Só espero que tenha um bom final agora. Ao menos teve alguma coisa depois do fracasso do filme né.
AMO Os Instrumentos Mortais, As Peças Infernais e Os Artifícios das Trevas e digo, com toda a propriedade, que a adaptação para o filme é mil vezes melhor que o seriado. O filme é mais fiel, apesar de Jamie Campbell Bower, com seu jeitinho nada carismático, estragar um personagem que eu amava odiar ou odiava amar, Jace. Já no seriado mexeram em pontos cruciais, inventaram situações bobas que não existiram, e até hj não sei o pq. Os livros são ótimos, então não dá pra entender o pq de uma série toda errada.
ResponderExcluirOlá! Realmente é frustrante quando uma série baseada em livros, tem tantas mudanças em seu enredo, eu não li e nem assisti (ainda) nada desse universo de Instrumentos Mortais, mas pude ter todos esses sentimentos quando comecei a acompanhar a já extinta Diários de um vampiro, a começar pelas características da personagem principal Elena, tudo bem, que amo a Caroline da série e isso não pode ser dito da personagem dos livros, mas são tantas diferenças que um não pode ser considerado baseado em outro.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOi, Kevyn!!
ResponderExcluirNão considero série de Shadowhunters uma adaptação da série dos livros Instrumentos Mortais, a série pela Netflix segue totalmente outra linha do que a dos livros, até curto muito a série e fiquei em feliz com a continuação, mas sei também que foram tantas mudanças que causa estranheza principalmente para quem ama esse universo. Enfim, foi bom enquanto durou a série Shadowhunters, mas não vou chorar tanto assim pelo seu fim.
Bjos
Quantos rolos que deu na adaptação.
ResponderExcluirMas a verdade é que adaptações ficam assim mesmo, não tem jeito.
O melhor é assistir pra curtir, e não levar a sério como os livros, quando li HP pela primeira vez, já tinha assistido os primeiros 6 filmes e fiquei com muitaaaaaa raiva porque também tiraram/mudaram muita coisa.
Ficou chato mexerem, mas ainda são uma boa adaptação.
Vou tentar ver Shadowhunters mesmo não sendo perfeita, pra quem sabe, ter mais coragem de começar de novo os livros também! kkk
bjs