Precisamos Falar Sobre: One Day At A Time

"Azucar!"
Sabe aquelas séries da Netflix que ninguém dá muita atenção aqui no Brasil, mas tem uma visibilidade enorme lá fora e são MUITO BOAS? One Day At A Time é exatamente isso, diria inclusive que é uma das melhores séries de humor disponível na Netflix. Só que, assim como Brooklyn Nine-Nine, One Day At A Time não é apenas mais um besteirol americano, temos latinicidade, depressão, ansiedade, sexualidade, identidade de gênero, empoderamento feminino, machismo, religião e uma pitada de white girl/boy problem. Por isso, fizemos uma lista com os motivos para você assistir One Day At A Time.

Primeira coisa temos que deixar claro, One Day At A Time é baseada em uma sitcom de mesmo nome produzida entre 1975 e 1984. Na história temos os Álvarez, uma família cubana-americana, que com muito bom humor, e toques de drama, levam a vida de latinos sobrevivendo em uma América racista e xenofóbica.

Temos como a matriarca Lydia, uma cubana que fugiu durante a Revolução/Ditadura cubana e foi para os Estados Unidos de modo ilegal para tentar viver com seu marido, já falecido. Sua filha, Penélope é o centro da casa e tudo que acontece no decorrer da série. Ela é uma ex-enfermeira do exercito americano que ainda sofre com os traumas causados pela guerra, e tendo que lidar com dois filhos adolescente para criar. Aí temos Elena, a mais velha, e Alejandro, Alex, o caçula. Elena é a garota revolucionária, que vive em protestos, luta contra o machismo, e durante as primeiras temporadas, busca aceitar sua sexualidade. Já Alex é o príncipe da casa, o garoto problema que sempre tem tudo o que quer, se depender da avó. Além deles, temos Schneider, o branco hétero cis dono do apartamento em que os Álvarez moram, um cara bem legal com a família e que lutou por anos contra o alcoolismo e agora tenta fazer parte da casa, sempre buscando a aprovação de Lydia.


Aos poucos outro personagem é inserido na história, Dr. Leslie, que é chefe de Penélope e que está tentando conquistar Lydia. 

Cada personagem tem suas complexidades e desafios que sempre estão evoluindo e nos fazem pensar sobre como os Álvares são iguais a qualquer família latina. Assim, temos uma lista de 5 motivos para você assistir One Day At A Time:

1. HUMOR

Quando falei sobre Brooklyn Nine-Nine deixei claro como é difícil encontrar uma série de humor que não precise de estereótipos para brincar com os outros. O humor em One Day At A Time vem da situação e não do ser. Assim como a primeira, ela não usa de piadas racistas, machistas, homofóbicas ou de qualquer outro tipo de preconceito para fazer você rir.

Os atores ajudam muito para que isso funcione muito bem. Por exemplo, todos os dias quando Lydia acorda, ela abre a cortina na sala que dá para o seu quarto, o modo como é feito isso é hilário. As piadas são bobas, mas tão inteligentes que nos fazem rir.


A única pessoa que ainda tem um pouco de humor por trás do ser é Schneider, que sempre aparece com atitudes que nos fazem pensar o quão ridículo a sua riqueza faz ele parecer. Ele acha que tudo pode ser resolvido com dinheiro, mas não faz isso por mal. O personagem é de uma ingenuidade única e se deixa levar facilmente por qualquer um.


2. REPRESENTATIVA LATINA

Sempre que falo de um filme ou de uma série aqui, sempre levo em consideração os personagens e que os interpreta. One Day At A Time é perfeita por isso. Todos os atores selecionados para fazer latinos, realmente, são latinos. As duas mães da história são representadas por atrizes consagradas em Hollywood, Rita Moreno como Lydia e Justina Machado como Penélope. Além disso, os dois filhos são representados por Isabella Gomez e Marcel Ruiz.


Rita, Justina e Marcel são porto-riquenhos, enquanto Isabella é colombiana. Todos eles se mudaram muito novos para os Estados Unidos, então sabem perfeitamente o que ser um latino vivendo no meio de uma população tão xenofóbica.

Como já falei muito de Brooklyn Nine-Nine aqui, gostaria de dizer que Stephanie Beatriz, a Rosa, e Melissa Fumero, a Amy, fazem participação especial no mesmo episódio como parte da família Álvarez.


OBS.: Marcel Ruiz também é um dos poucos atores que interpretam personagens com sua idade correspondente. Estamos tão acostumados a ver adultos interpretando adolescentes que é estranho saber que ele realmente tem a idade da série.

3. TRANSTORNOS E SÍNDROMES PSICOLÓGICOS

A série nos apresenta tantos problemas psicológicos e eles são tão bem representados que ficamos muitas vezes angustiado com o que vemos. Penélope é a que mais apresenta eles durante todas a séries. A maioria deles é decorrente do seu período na guerra. Ela ainda lembra de como é estar em meio a um confronto, ver pessoal feridas o tempo todo e sofre com isso.

Penélope apresenta diagnósticos de depressão, ansiedade, síndrome do pânico, tudo isso dentro do TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático). E apesar de ser uma série de humor, ela não brinca com esses momentos, trazendo uma carga mais pesada e dramática, sem risos ou aplausos.


As cenas na terceira temporada retratando a ansiedade são tão fortes que nos faz pensar o quão ruim pode ser passar por isso.

4. SEXUALIDADE E IDENTIDADE DE GÊNERO

Logo na primeira temporada Elena se descobre lésbica e busca um modo de contar isso para a família, o que para ela é um grande problema, tendo em vista que a avó é extremamente religiosa e tradicional. As duas acabam encontrando um modo de se ajudar e superarem o suposto problema. Apesar disso, Elena precisa passar a série toda reafirmando sua sexualidade, inclusive para a família.


Na terceira temporada, somos apresentados a/o namorado/a de Elena, uma mulher que se apresenta como não-binário, o que se torna um grande problema para a família, não pela aceitação, mas como lidar com questões de buscar substantivos, adjetivos e pronomes que fossem neutros.


5. EMPODERAMENTO FEMININO

Durante toda a série, Elena tenta mostrar para a mãe o quanto Penélope é suficiente para si mesmo, isso porque a avó está sempre insistindo que uma mulher só é plenamente feliz quando está com outro homem.

Lydia vem de uma família tradicional cubana, foi uma mulher forte, apesar de apoiar o marido em tudo, mesmo que não concordasse. A matriarca dos Álvarez está sempre tentando fazer a filha ficar com um homem, inclusive soltando piadas e mal gosto que fazem Penélope ficar mal.


Além disso, a avó está sempre mimando Alex apenas pelo fato dele ser homem, assim como faz com o filho que não liga para ela. Alejandro é tratado como um príncipe, fazendo todos os seus “querer”, enquanto com Penélope e Elena o tratamento é totalmente diferente. Apesar disso, Lydia está se descontruindo com o tempo e buscando formas de se adaptar a vida moderna.


Uma das cenas mais fortes da terceira temporada Alex questiona Elena porque ela o odeia, e ela simplesmente diz que não o odeia o tempo todo, apenas quando age como um homem escroto e revela que é justamente daquele tipo de homem que ela tem medo, pois recentemente teve que fugir de alguns que seguiram ela e seu “caso”. Alex percebe o quão ruim suas ações podem ser diante das mulheres e começa a se questionar como pode fazer para mudar.


Enquanto isso, Schneider diz coisas como: “É ridículo dizer que não há homens feministas, eu mesmo luto pelos direitos das mulheres”. 

EXTRA: RITA MORENO


A geração mais nova não teve tanto contato com a atriz, mas ela é simplesmente um ícone da televisão e cinema americano. Ela pertence uma lista seleta de pessoas que ganharam o que alguns chamam de E.G.O.T (Emmy, Grammy, Oscar e Tony), sendo as principais premiações respectivamente da televisão, da música, do cinema e do teatro, além de ganhar um Globo de Ouro, . Apenas 11 pessoas conseguiram esse feito em quase 60, os mais conhecido atualmente são Whoopi Goldberg, que atingiu em 2002 e John Legend que conseguiu em 2018.

Além disso, Rita é tão icônica que subiu ao palco do Oscar do ano passado, 2018, para apresentar a categoria de Melhor Filme Estrangeiro e chamou atenção por um detalhe: ela usou o mesmo vestido que estava usando quando ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 1962 por Amor, Sublime Amor. Isso mesmo, ela usou o mesmo vestido 56 anos depois na maior premiação do cinema mundial e ainda arrancou suspiros por sua juventude e beleza.



One Day At A Time é uma série que remerece seu reconhecimento e infelizmente não tem. Eu amo essa série e vou exaltá-la. Aproveite que a 3ª temporada acabou de sair na Netflix e corre pra colocar ela em dia.


5 comentários:

  1. Tô vendo falar tanto dessa série que até deu vontade de ver também. Não sou lá de assistir série de humor exatamente por medo daquela coisa boba e perda de tempo. Mas essa ta bem completa pelo visto. O humor gostoso, as coisas sérias no meio, representatividade e a coisa de mexer com o fato de um jeito humorado, cutucando com uns assuntos. Parece bem legal. E lembro daquele fato da atriz usar o mesmo vestido na premiação e foi tão legal isso que fiquei com ela marcada na cabeça. Achei interessante a série por mais esse detalhe dela no meio. Parece bem divertida e com um jeito bom pra prender qualquer um.

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  2. Oi, Kevyn!!
    Ainda não conhecia essa série da Netflix e fiquei bem interessada em One Day At A Time. E pelo visto a série tem vários temas bem importantes e muito envolvente. Já adicionei na minha lista. Só me resta saber quando vou ter tempo para assistir.
    Bjos

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  3. Ah, eu quero muito assistir. Amo séries que retratem famílias, famílias grandes, doidas, com amor e problemas. Vi que ainda não é certa a renovação e dona Netflix desconversa sobre o assunto.

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  4. Olá! A Netflix tem ótimas opções de série para conferir, ainda não tive a oportunidade de assistir essa, que trata de uma forma divertida ( mas com toda seriedade) temas super atuais, como o empoderamento feminino e sexualidade, preciso me organizar para poder conferir todas essas dicas.

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  5. Que série bacana!
    Não conhecia ainda, mas achei muito legal por tudo o que você citou, bem representativa, sem ser vulgar ou superficial!
    Vou querer assistir com certeza.
    O melhor é falar sobre sexualidade, um tema que tem tido tanta polêmica e machucado as pessoas que sofrem preconceitos. Quem sabe com uma série assim o preconceito não diminui ne?
    bjs

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Priscila, linguista de formação, doutoranda em Narratologia. Começou a ler um livro do Sidney Sheldon aos oito anos e nunca mais parou. Hoje, fez das Letras sua profissão.

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